“Friedrich Engels, Mary e Lizzy Burns”, de Michael Herbert — tradução

Manchester’s Radical History, Manchester, 15 mar. 2010.

Tradução de Felipe Cotrim

As irmãs Mary e Lizzy Burns foram duas mulheres irlandesas de Manchester que se tornaram amantes do escritor socialista Friedrich Engels e desempenharam um papel importante na vida dele.

Depois de uma breve visita, quando adolescente,1Engels viajou pela primeira vez à Inglaterra, a negócios, acompanhado do pai, que também se chamava Friedrich Engels. Naquela ocasião, estiveram em Londres e Liverpool. Alguns biógrafos de Engels contrastam sobre a data em que ocorreu a viagem. Conforme Henderson, Engels viajou à Inglaterra em 1840 (William Otto Henderson, The Life of Friedrich Engels, In Two Volumes, Vol. 1. Londres: Frank Cass, 1976, p. 11). Por sua vez, Ilitchev afirma que a viagem ocorreu em julho de 1838 (L. F. Ilitchev et al., Friedrich Engels, biografia. Lisboa: Avante!, 1986, pp. 16-7). (Nota do Tradutor.) Friedrich Engels se mudou para Manchester em dezembro de 1842, aos 22 anos, para trabalhar na empresa da família, a Ermen e Engels. Engels nasceu em Barmen, atual Wuppertal, na Alemanha, em 28 de novembro de 1820, em uma família rica e conservadora que fez fortuna na indústria de algodão. Aos dezoito anos de idade, envolveu-se na política radical, contribuindo com dois artigos anônimos para um jornal local em que expôs as condições de trabalho dos operários nas fábricas.2Trata-se da série de ensaios intitulados “Cartas de Wuppertal”, publicados na Telegraph für Deutschland (n. 49-52, 57, 59, mar./abr. 1839), revista literária fundada e editada pelo escritor alemão Karl Gutzkow, publicada em Frankfurt durante o ano de 1837 e em Hamburgo entre os anos de 1838 e 1848. Durante as décadas de 1830 e 1840, a Telegraph für Deutschland foi a revista que expressava as opiniões do movimento cultural Jovem Alemanha. Friedrich Engels contribuiu com ensaios para aquela revista de março de 1839 a 1841. Nas “Cartas de Wuppertal”, além da situação da classe operária em Wuppertal, Engels apresentou ao leitor uma visão panorâmica das cidades do vale do rio Wupper, como Barmen e Elberfeld, tratando de temas como a relação entre a natureza e a sociedade, a urbanização e a arquitetura, as relações sociais de produção e da indústria, o alcoolismo e a religião, o jornalismo e a literatura (Friedrich Engels, “Cartas de Wuppertal”. Trad. de Nélio Schneider. In: Friedrich Engels, Esboço para uma crítica à economia política e outros textos de juventude. Org. e apres. de José Paulo Netto. São Paulo: Boitempo, 2021. pp. 57-75. [Marx-Engels]; MECW, Marx and Engels Collected Works. Londres: Lawrence Wishart, 1975-2004, v. 2, pp. 7-25, 627, nota 666). (N. T.)

Em 1841, Engels prestou serviço militar em Berlim, entretanto, passou a maior parte do tempo atendendo a conferências de filosofia na universidade e debatendo ideias com os jovens hegelianos3Os jovens hegelianos de Berlim, ou os Livres, foram um círculo de intelectuais da primeira metade da década de 1840 que representavam a corrente de esquerda da filosofia hegeliana, constituída poucos anos depois da morte do filósofo alemão G. W. F. Hegel, em 1831. Liderado pelos filósofos e críticos sociais, como Edgar Bauer, Eduard Meyen, Ludwig Buhl e Max Stirner, os Livres eram reconhecidos pelo caráter radical e intransigente de seus textos, os quais versavam sobre filosofia, política e teologia (MECW, v. 2, p. 612, nota 164). (N. T.) em inúmeras tavernas. Contribuiu com artigos para o jornal Gazeta Renana,4O Gazeta Renana [Rheinische Zeitung] foi um jornal fundado em 1º de janeiro de 1842 como órgão da oposição burguesa liberal da província alemã da Renânia. Publicado até março de 1843 em Colônia, o jornal teve como editor, entre 15 de outubro de 1842 e 17 de março de 1843, o filósofo alemão Karl Marx, o qual estabeleceu uma linha editorial de caráter democrático-radical. O Gazeta Renana foi fechado pelo governo prussiano em 1º de abril de 1843 (MECW, v. 2, p. 666). (N. T.) publicado em Colônia. A família dele ficou chocada com as ideias políticas do filho primogênito e esperavam que, enviando-o para trabalhar na empresa da família em Manchester, ele seria curado daqueles ideais. No caminho para Manchester, ele passou por Colônia, onde se encontrou com o novo editor do Gazeta Renana, Karl Marx. Em seu primeiro encontro, os dois não se entenderam muito bem.

Engels trabalhou no escritório da empresa Ermen e Engels em Southgate — a fábrica, hoje demolida, localizava-se em Weaste. Em algum momento, provavelmente no início de 1843, conheceu Mary Burns, talvez no Hall of Science owenista,5Owenista se refere a Robert Owen, industrial e filantropo galês, um dos primeiros socialistas da história. Owen foi fundador dos Hall of Science, espaços de socialização dos socialistas ingleses. (N. T.) em Deansgate, frequentado por Engels, embora alguns historiadores tenham sugerido que Mary trabalhou na fábrica da Ermen e Engels. Conforme pesquisa de Roy Whitfield, Mary e sua irmã Lydia, mais conhecida como Lizzy, eram filhas de Michael Burns e Mary Conroy, e viveram em Deansgate, então uma região de quadras fétidas e becos estreitos.

Um dos Juggernauts do capital,6“Juggernaut (Dschagannat): uma das formas do deus Vishnu. O culto de Jagrená se caracterizava por um elevado grau de fanatismo religioso, incluindo rituais de autoflagelação e autossacrifício extremos. Em certos dias festivos, os fiéis se jogavam sob as rodas de um carro (o “carro de Jagrená”), sobre o qual se encontrava uma figura de Vishnu-Dschagannat” (Karl Marx, O capital, livro 1: crítica à economia política: o processo de produção do capital. Trad. de Rubens Enderle. Apres. de Jacob Gorender. Textos introdutórios de Louis Althusser e José Arthur Giannotti. São Paulo: Boitempo, 2013, p. 352, nota *. [Marx-Engels]). (N. T.) a fábrica da Ermen e Engels em Weaste, às margens dos trilhos da ferrovia Manchester-Liverpool. (Reprodução de Tristram Hunt, Marx’s General: The Revolutionary Life of Friedrich Engels. Nova York: Holt Paperbacks, 2010, figura 9.)

Eleanor,7Eleanor Marx a Karl Kautsky, 15 mar. 1898 (Karl Kautsky Papers, International Institute of Social History, Amsterdam, 516, p. 489. Citado por Hunt, Marx’s General, op. cit., p. 94; Belinda Webb, Mary Burns. Kingston upon Thames, Londres: Faculty of Arts and Social Sciences, Universidade de Kingston, 2011, p. 29. Tese [PhD, Literatura Inglesa]). (N. T.) filha de Marx, descreveu Mary em uma carta a Karl Kautsky, redigida em 1898, como “uma garota de fábrica de Manchester, bastante inculta, embora soubesse ler e escrever um pouco”. Eleanor também escreveu que Mary era “bonita, espirituosa e muito charmosa” e que seus pais, Marx e Jenny, gostavam muito dela e sempre falavam a seu respeito com o mais profundo afeto.

A atriz britânica Hannah Steele e o ator alemão Stefan Konarske interpretando Mary Burns e Friedrich Engels no filme O jovem Karl Marx (2017), do cineasta haitiano Raoul Peck.

Enquanto esteve em Manchester, Engels realizou um estudo detalhado das condições sociais daquela cidade industrial inglesa. Provavelmente, as irmãs Burns o guiaram ao redor da cidade, garantindo sua segurança em áreas nas quais um estrangeiro rico era raro, e um alvo potencial de criminosos. Engels mudou-se de Manchester em agosto de 1844, retornou à Alemanha e escreveu um livro sobre aquele estudo,8Sobre o processo de redação de A situação da classe trabalhadora na Inglaterra, Engels escreveu, em carta a Marx (Barmen, 19 nov. 1844), que estava “com jornais e livros ingleses até as sobrancelhas, que estão servindo de base para meu livro sobre a condição dos proletários ingleses. Espero terminá-lo em meados ou no final de janeiro, tendo concluído a organização do material, a parte mais árdua do trabalho, há cerca de uma semana ou quinze dias. Acusarei a burguesia inglesa, perante o mundo inteiro, de assassinato, roubo e outros crimes em grande escala, e estou escrevendo um prefácio em inglês, que mandarei imprimir separadamente e enviarei aos líderes dos partidos ingleses, homens de letras e membros do Parlamento. Isso dará a esses companheiros algo para se lembrarem de mim. Não é preciso dizer que meus golpes, embora dirigidos aos alforjes, são destinados ao burro, ou seja, à burguesia alemã, para quem deixo bem claro que são tão ruins quanto seus colegas ingleses, exceto por seus métodos de trabalho não serem tão ousados, completos e engenhosos. Assim que terminar isso, começarei a história do desenvolvimento social dos ingleses, o que será ainda menos trabalhoso, uma vez que já tenho o material para isso e o organizei em minha cabeça, e também porque estou perfeitamente esclarecido sobre o assunto” (MECW, v. 38, pp. 10-1). (N. T.) publicado em 1845 em Leipzig sob o título A situação da classe trabalhadora na Inglaterra — a tradução ao inglês só foi publicada na Grã-Bretanha em 1892. O livro foi dedicado “às classes trabalhadoras da Grã-Bretanha”, às quais Engels9Friedrich Engels, A situação da classe trabalhadora na Inglaterra: segundo as observações do autor e fontes autênticas. Trad. de B. A. Schumann. Supervisão, apres. e notas de José Paulo Netto. São Paulo: Boitempo, 2010, p. 37. (Marx-Engels). (N. T.) escreveu:

Eu queria conhecer-vos em vossas casas, observar-vos em vossa vida cotidiana, debater convosco vossas condições de vida e vossos tormentos; eu queria ser uma testemunha de vossas lutas contra o poder social e político de vossos opressores. Eis como procedi: renunciei ao mundanismo e às libações, ao vinho do Porto e ao champanhe da classe média,10Conforme as palavras do próprio Engels no prefácio do Situação, “a expressão classe média” foi usada “no sentido inglês middle-class (ou, como se diz frequentemente, middle-classes), que designa, como a palavra francesa bourgeoisie, a classe proprietária, especificamente a classe proprietária que é distinta da chamada aristocracia”, ou seja, a burguesia industrial inglesa (Engels, A situação da classe trabalhadora na Inglaterra, op. cit., p. 43). (N. T.) e consagrei quase exclusivamente minhas horas vagas ao convívio com simples operários.

Vinte anos depois, Marx11Karl Marx a Friedrich Engels, Londres, 9 abr. 1863 (MECW, v. 41, p. 469. Citado por Henderson, The Life of Friedrich Engels, op. cit., v. 1, p. 66; Ilitchev et al., Friedrich Engels, biografia, op. cit., p. 70). (N. T.) escreveu a Engels sobre o livro:

Reli seu livro e percebi que não estou ficando mais jovem. Que poder, que incisividade e que paixão o levam a trabalhar naqueles dias. Foi um tempo em que você jamais se preocupou com reservas acadêmicas! Foram os dias em que você fez com que o leitor sentisse que suas teorias se tornariam fatos concretos, se não amanhã, então, no mais tardar, no dia seguinte. Porém, aquela mesma ilusão deu à obra um calor humano e um toque de humor que faz com que nossos escritos posteriores — nos quais “o preto e o branco” se tornaram “cinza e cinza” — pareçam positivamente desagradáveis.

Engels e Marx se tornaram grandes amigos para a vida inteira depois de seu segundo encontro, em Paris, no verão de 1844, onde Marx morava desde o outono do ano anterior, após ter sido forçado a abandonar a Alemanha. Encontraram-se outra vez em Bruxelas, na primavera de 1845 — Marx fora forçado a abandonar a França —, e então viajaram para Manchester em julho. Aqui, em Manchester, frequentaram a biblioteca Chetham. A mesa à qual se sentavam para ler e estudar ainda pode ser visitada.

Em 1870, Engels12Friedrich Engels a Karl Marx, Manchester, 15 maio 1870 (MECW, v. 43, p. 518). (N. T.) escreveu a Marx que “nos últimos dias, tenho frequentemente sentado à mesa quadrilateral, ao lado da pequena janela de proa em que sentávamos há 24 anos. Gosto muito daquele lugar. O tempo está sempre agradável lá por causa da janela colorida”.

A mesa da biblioteca gótica Chetham, em Manchester, frequentada por Karl Marx e Friedrich Engels. (Fotografia disponível em “Chetham’s Library”. Wikipedia.)

No retorno de Marx e Engels a Bruxelas, em agosto de 1845, Mary Burns os acompanhou. Marx e Engels eram vizinhos e passaram muito tempo debatendo com exilados políticos e bebendo. Aparentemente, Mary retornou a Manchester mais tarde naquele ano.

Marx e Engels participaram das Revoluções de 1848 na Alemanha.13Trata-se do processo revolucionário ocorrido nos Estados alemães entre 1848 e 1849, simultâneo ao processo revolucionário de proporções continentais que se espalhou ao longo de 1848 pela Europa Central e Oriental e ficou conhecido como Primavera dos Povos. Para mais informações sobre a Revolução Alemã de 1848-9 e as jornadas revolucionárias de 1848, ler Eric Hobsbawm, A era do capital, 1848-1875 (Trad. de Luciano Costa Neto. São Paulo: Paz e Terra, 2012, cap. 1). Engels também publicou análises perspicazes a respeito da Revolução Alemã de 1848-9, as quais hoje estão reunidas sob o título de Revolução e contrarrevolução na Alemanha. Os artigos referentes ao Revolução e contrarrevolução foram escritos depois de Charles Dana, editor do New York Daily Tribune, convidar Marx, em 1851, para ser correspondente desse jornal estadunidense. Ocupado com seus estudos de economia política, Marx delegou a Engels a responsabilidade de escrever os artigos encomendados por Dana sobre a Revolução Alemã de 1848-9. Engels fez uso dos arquivos do Nova Gazeta Renana [Neue Rheinische Zeitung] — jornal que dirigiu em parceria com Marx em Colônia entre 1848 e 1849 — e de materiais adicionais que lhe foram cedidos por Marx. Essa série de artigos escritos por Engels foram publicados no New York Daily Tribune entre 1851 e 1852 sob a assinatura de Marx. Só em 1913, com a publicação da correspondência de Marx e Engels, se descobriu que este fora o verdadeiro autor daqueles artigos (MECW, v. 11, p. 585, nota 1). (N. T.) Depois da derrota das Revoluções, no verão de 1849, ambos deixaram a Alemanha outra vez. Em 1850, mudaram-se para a Grã-Bretanha, onde viveriam pelo resto de suas vidas. Na Inglaterra, Marx e Engels firmaram um acordo: Marx seria pesquisador e escritor enquanto Engels o apoiaria com o dinheiro ganho como sócio da Ermen e Engels.

Friedrich Engels retornou a Manchester em novembro de 1850, vivendo na Great Ducie Street, 70, e recomeçou seu relacionamento com Mary. O escritório da empresa era na Southgate, 7. Em uma carta a Marx, Engels14Não localizei essa carta de Engels a Marx acerca da vista do escritório em Manchester. Todavia, localizei uma carta de Engels à sua mãe, Elisabeth Franziska Mauritia Engels, nascida van Haar, de 1º de julho de 1869. Nela, Engels diz: “Minha nova liberdade é a coisa ideal para mim. Desde ontem, tenho sido um homem completamente novo e dez anos mais jovem. Hoje de manhã, em vez de ir para a cidade deprimente, caminhei por algumas horas no campo, sob esse clima maravilhoso; e, na minha mesa, em uma sala confortavelmente mobiliada, na qual se pode abrir as janelas sem que a fumaça faça manchas pretas por toda parte, com flores nos parapeitos das janelas e árvores em frente da casa, pode-se trabalhar de maneira bem diferente do que na minha sala sombria no ‘armazém’, com vista para o pátio de uma cervejaria” (MECW, v. 43, pp. 302-3). (N. T.) queixou-se a respeito da melancólica vista do escritório para um pátio de um pub, provavelmente do Star Hotel. Nas proximidades havia outro pub cujo proprietário era James Belfield. Engels enviou regularmente dinheiro para Marx, e os dois se correspondiam quase diariamente. Muitas cartas, mas não todas, sobreviveram.

Engels embarcou então em uma elaborada vida dupla, desenterrada depois de meticulosa pesquisa realizada pelo historiador local Roy Whitfield em Frederick Engels in Manchester.15Roy Whitfield, Frederick Engels in Manchester. Salford: Working Class Movement Library, 1988. (N. T.) Para sua vida pública como um respeitável homem de negócios, Engels manteve um conjunto de residências nas quais entretinha os amigos empresários, foi membro do Albert Club — um clube para empresários alemães batizado em homenagem ao príncipe Albert, situado na Oxford Road — e cavalgava regularmente no Cheshire Hunt.

Em sua vida privada, Engels viveu com Mary Burns, que, com a irmã Lizzy, administravam pensões, mudando-se de tempos em tempos para diferentes regiões de Manchester. Com frequência, Engels se registrou como hóspede naquelas pensões, mas se apresentava com outros nomes, provavelmente com o propósito de ocultar sua identidade. Isso nem sempre funcionava. Em abril de 1854 escreveu a Marx que “os filisteus descobriram que estou vivendo com Mary”, forçando-o a se mudar, uma vez mais, para uma residência secreta.16Friedrich Engels a Karl Marx, Manchester, 1 abr. 1854 (MECW, v. 39, p. 443). (N. T.)

Em fevereiro de 1862 escreveu a Marx dizendo que “agora estou morando com Mary quase o tempo todo a fim de gastar menos dinheiro possível. Não posso dispensar minhas outras residências, caso contrário, passaria a morar com ela em definitivo”.17Friedrich Engels a Karl Marx, Manchester, 28 fev. 1862 (MECW, v. 41, p. 344). (N. T.)

Tanto as residências secretas quanto as oficiais de Engels foram todas demolidas há muito tempo. Há uma placa memorial para Engels na Thorncliffe House, uma residência estudantil da Universidade de Manchester, construída no local da Thorncliffe Grove, 6, Chorlton-on-Medlock, uma das residências “oficiais” de Engels.

Residência de Friedrich Engels em Manchester entre 1858 e 1864 na Thorncliffe Grove, 6. (Reprodução de William Otto Henderson, The Life of Friedrich Engels, In Two Volumes, Vol. 1. Londres: Frank Cass, 1976.)

Engels e Mary Burns nunca se casaram. Ela morreu de modo repentino em 7 de janeiro de 1863, na Hyde Road, 252, Ardwick. Seu local de enterro é hoje desconhecido. Em algum momento, Friedrich e Lizzy se tornaram amantes. Eleanor Marx visitava com frequência a amiga Lizzy. Mais tarde, Eleanor18Eleanor Marx a Karl Kautsky (Karl Kautsky Papers, International Institute of Social History, Amsterdam, 516, p. 489. Citado por Hunt, Marx’s General, op. cit., p. 227). (N. T.) escreveu a Karl Kautsky que Lizzy “era analfabeta e não sabia ler ou escrever, mas era fiel, honesta e, de certa forma, uma mulher com a alma mais boa que você poderia conhecer”. De acordo com Paul Lafargue, genro de Marx, Lizzy esteve “em permanente contato com os muitos irlandeses de Manchester e estava sempre bem informada de suas conspirações”. Ele sugeriu até mesmo que “mais de um feniano19Membro da Irmandade Republicana Irlandesa, organização secreta fundada na Irlanda, atuante entre 1858-1924, ou da Irmandade Feniana, fundada em 1858 nos Estados Unidos. Ambas as organizações políticas militavam pela independência da Irlanda e atuaram entre meados do século XIX e início do XX. (N. T.) encontrou hospitalidade na casa de Engels” e que eles estiveram envolvidos no dramático resgate dos líderes fenianos Kelly e Deasy, em setembro de 1867.20Reminiscences of Marx and Engels. Moscou, 1958, p. 88. Citado por Hunt, Marx’s General, op. cit., p. 232. (N. T.) Não há evidências disso, embora a casa de Engels e Lizzy na Hyde Road, 252, era próxima do local do resgate.

Lizzy Burns. (Reprodução de L. F. Ilitchev et al., Friedrich Engels, biografia. Lisboa: Avante!, 1986.)

Engels, com grande alívio, enfim se aposentou dos negócios em 30 de junho de 1869. Eleanor Marx,21Recordações sobre Marx e Engels. Moscou, 1958, p. 185. Citado por Ilitchev et al., Friedrich Engels, biografia, op. cit., p. 282. (N. T.) que então se hospedava na casa de Engels e Lizzy, escreveu mais tarde:

Nunca esquecerei a sua exclamação de triunfo, “Pela última vez!”, quando, de manhã, ele estava a calçar as botas para, pela última vez, tomar o caminho do escritório. Algumas horas depois, nós, que estávamos o esperando à porta, o vimos vir pelo pequeno campo que havia ao pé da casa. Agitava no ar a bengala e cantava, sorridente. Depois, nos sentamos festivamente à mesa, bebemos champanhe e fomos felizes.

Friedrich e Lizzy se mudaram de Manchester para Londres em setembro de 1870, fixando-se em uma casa na Regent’s Park Road, 122, Primrose Hill, só dez minutos a pé da casa de Marx. A confortável casa serviu de epicentro do florescente movimento socialista, recebendo uma quantidade infinita de cartas e de visitantes. Lizzy sofreu muito de saúde em seus últimos anos e morreu em 11 de setembro de 1878, sendo enterrada no cemitério Kensal Green. Friedrich se casou com Lizzy um pouco antes da morte dela. Marx morreu em 14 de março de 1883 e foi enterrado no cemitério Highgate. Por fim, o próprio Engels, então conhecido como o Grande Ancião do socialismo internacional, morreu em 5 de agosto de 1895. A seu pedido, suas cinzas foram espalhadas no mar, próximo de Beachy Head.

A Meca do socialismo internacional, o escritório de Engels na Regent’s Park Road, 122, em Londres. (Reprodução de Hunt, Marx’s General, op. cit., figura 24.)

Local em Eastbourne em que foi lançada ao mar a urna com as cinzas de Friedrich Engels. (Reprodução de Ilitchev et al., Friedrich Engels, biografia, op. cit.)

MICHAEL HERBERT veio a Manchester pela primeira vez em 1973. É formado em História pela Universidade de Manchester e tem mestrado em História de Manchester pela Manchester Metropolitan University. É membro do conselho diretor da Working Class Movement Library e editou o North West Labour History Journal. Ministrou cursos sobre a história radical de Manchester para a Workers’ Educational Association e, de tempos em tempos, lidera caminhadas sobre história radical. Seus trabalhos publicados incluem Never Counted Out!: The Story of Len Johnson, Manchester’s Black Boxing Hero and Communist (1992) e The Wearing of the Green: A Political History of the Irish in Manchester (2000).

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